
Em primeiro lugar, há pessoas a quem eu devia pedir
desculpa. Pessoas a quem magoei. Pessoas que me magoaram. E o mais difícil é
não ser capaz de o fazer. Ou se for capaz, não ser o suficiente. Pela primeira
vez na minha vida, neguei aquele instinto de vingança e maldade tão
característico meu. E apeteceu-me pedir desculpa. Mas não pedi. E queria que
tivessem pedido desculpa. E não pediram.
Em segundo lugar, não entendo como podemos ter o que sempre
quisemos e estar, ainda assim, insatisfeitos. Será que o ser humano nunca se
contenta? Livrei-me da droga que tanto me atormentava. E isso, para alguém tão
casmurra, repetente e cansativa como eu, foi uma grande vitória. Sabes aquele
sujeito que vem num cavalo branco, por quem tu esperas toda a vida? Ele não vem
num cavalo branco, nem veste fatinho branco, nem é perfeito como nos filmes da
Disney. Esse sujeito é humano. E é, ainda assim, o mais próximo de perfeição
que se pode encontrar, por isso, não devemos deixar esse tipo de pessoa ir
embora.
Em terceiro lugar, continuo a sentir-me sozinha hoje. Não
sei se é por causa da exaustão tão acentuada que me obrigou a adormecer em cima
de um pequeno trampolim. Aliás, nem me lembro do que a rapariga que estava a
dormir pensava. Porque ela tirou férias neste preciso momento. E essa sim, tem
sorte. Eu, nada sei, tudo digo e muito pouco acerto.
Eu, a minha humanidade tão finalmente definida, e os meus
erros tão presentes, levam-me hoje a aceitar que o dia em que paramos de
tentar, é o dia em que deixamos a terra engolir-nos. Porque é o que sinto
agora. Mesmo tendo uma parte de mim que tem tudo o que sempre sonhou, a outra
parte falta algo. É o puzzle incompleto, aquele que só aparece quando a
exaustão chega. E não sei o que pode curar isso. Nem sei se vale a pena curar.
Talvez devesse enterrar esta parte, tão exausta de sentimentos, tão retraçada e
tão dorida. Como se tivesse sido atingida por milhões de facas. É como se
tivesse a fazer o luto do que um dia eu fui, e do que parte de mim continua a
ser.
Mas sabes, eu sou a fénix. Aquela pequena personagem que
renasce das cinzas. Aquele pequeno animal que nunca desiste. Que volta, e
volta, e volta. Assim como eu. Eu volto. Eu voltei, e vou continuar a voltar.
Não sei porquê nem como. Não sei.
Eu quarto lugar, está o medo. O medo de me enganar, de
errar, de voltar a cair na minha tendência imperfeita de acreditar e sofrer, e
desse ciclo se repetir vezes sem conta, sem eu na verdade dar graças do que
tenho, ou do que um dia tive. Simplesmente tornou-se imperativo não deixar o
coração morrer. Fazê-lo continuar a bater, independentemente de tudo. Sem
parar. Sem doer. Tentar. Não desistir.
«Ás vezes as pessoas choram quando estão felizes. E não é por quererem estar infelizes, ou por serem loucas. É porque mesmo quando estão felizes, ainda sentem que falta algo. Porque mesmo quando o sol brilha o arco-íris ainda tende a aparecer, pelas lindas gotas de chuva que caem da nossa alma. E sim, a alma chora quando não tem quem a complete. Porque almas sozinhas são almas vazias, sem nada dentro, sem nada saber. E cada lágrima que cai contempla toda a sabedoria dessa lágrima, ali, quieta e rolando pela face abaixo.»
«Ás vezes as pessoas choram quando estão felizes. E não é por quererem estar infelizes, ou por serem loucas. É porque mesmo quando estão felizes, ainda sentem que falta algo. Porque mesmo quando o sol brilha o arco-íris ainda tende a aparecer, pelas lindas gotas de chuva que caem da nossa alma. E sim, a alma chora quando não tem quem a complete. Porque almas sozinhas são almas vazias, sem nada dentro, sem nada saber. E cada lágrima que cai contempla toda a sabedoria dessa lágrima, ali, quieta e rolando pela face abaixo.»
0 comentários:
Enviar um comentário