sexta-feira, 26 de outubro de 2012

qυєяι∂α ρєѕѕσα qυє єυ ταητσ αмανα (18/09)

Ontem acordei e lembrei-me de ti. Como sempre, não estavas lá, mas houve algo, e eu não sei qual é o poder desse algo, que atraiu o meu pensamento para ti. E, como sempre, olhei para o tecto e controlei tudo de novo. Porque ao pensar em ti nada pode ser descontrolado. Não podem cair lágrimas, não pode haver sentimento.  Não pode haver tu, não pode haver nós , e nada pode fugir. Tem de haver aquela frieza calculista em que cada percentagem de sentimento é destinada a determinada coisa e a partir daí é apenas gelo. Não há mais nada, mais nada a dizer , fazer ou sentir. Sinto falta do calor, admito, mas o frio é confortável agora, estando exactamente no mesmo lugar em que comecei. O sentimento é semelhante a outrora, no entanto desta vez estou mais consciente de certas palavras como "mentira" e "engano".
O dia de hoje começou brilhante, com um pôr-do-sol quente, mas depressa foi escurecendo até não sobrar mais nada que nuvens cinzentas no céu. O peso da consciência foi algo mortal. Torturou cada pedaço da minha mente, colocando o meu coração, já de si abalado, num beco sem saída e negro como breu. A vida parou por momentos, deixando-me apenas com os meus remorsos do meu comportamento tão errante, das promessas feitas que talvez não se possam vir a quebrar. De frases perfeitas perdidas com o tempo, como um dia eu me perdi em pensamentos de ti. Quando os dias são negros, sinto falta disso. Do sol, do calor, da liberdade de todas aquelas pressões do dia-a- dia. Agora tudo é diferente, as coisas têm pouco valor. Até os meus sentimentos têm pouco valor. Foram encobertos, roubados, mortos e agora recentemente enterrados. A dor adormecida é mais incapacitante que a dormência com que cobri o meu mundo. Quando não durmo sinto aquela parte pensante adormecida, não há filtro pela qual a tua ausência passe. A dormência é tudo. Tornaste-me no que sou agora. A falta de vergonha, de sentimentos, de medo. Por vezes sinto culpa, a minha tão grande culpa, a alegria pura indo embora lentamente, deixando o frio no lugar das emoções, dando uma paz cada vez mais completa.
E a paz da dormência toca o meu peito enquanto vivo, e toca a minha mente enquanto caminho. A paz conduz o gelo ao sítio certo, impedindo-me de cair enquanto me coloco naquela ponta do precipício onde fui tão condenadamente levada.