terça-feira, 10 de dezembro de 2013

σ qυє ѕє єη¢σητяα ησѕ яαѕ¢υηнσѕ...


Então, abri os olhos. Abri os olhos e depois de tantas horas a pensar inconscientemente, a acordar de um sono pouco profundo de tempos em tempos, senti-me exausta. Drenada. Como se a minha alma se tivesse esvaziado durante aquele tempo de descanso tão impuro. Como se toda a minha dor tivesse aumentado numa concentração aquosa de todas as lágrimas que podia ter chorado e não chorei. E os segundos vão passando enquanto eu repetia o que já era tão hábito fazer diariamente. E dessa vez não pude evitar pensar. Não pude evitar cair naquela mágoa tão grande que tanto alcançava o meu coração, enquanto eu desejava fugir de mim mesma e não ter ouvido aquelas palavras que passaram a barreira imposta à minha alma e tocaram o meu espírito de maneira tão cruel e fria. Toda a minha paciência e concentração foram abaladas pela vibração daqueles sentimentos tão antigos que eu já nem reconhecia como sendo meus. Então caí, como um anjo de asas brancas e puras a quem foi tirado o coração, anjo esse que criou um ódio tão grande por si mesmo e para com o mundo que as suas asas se tornaram negras como o ébano. E entendi então que nada em mim estava pronto para sentir. Nada em mim estava pronto para estar exposto à mágoa e ao sofrimento. Nada em mim estava pronto para amar. E portanto ali estava eu, junto àquela porta gigante que servia de passagem para o mundo pertencente ao meu coração, sem sentir, desprecavida. E tinha tentado tanto passar pela porta que estava marcada de todas as tentativas vãs de conseguir o meu coração de volta. O que eu era, perdi. O que eu senti, não sinto mais. Fui abandonada à sorte de um pensamento contínuo e insaciável, de uma alma impura e inquieta que não me deixava viver a não ser na sombra, pois todo o meu ser fugia da luz. E cada vez mais me sentia arrastada para um mundo que não era o meu. Sentia pedaços de mim serem roubados e estilhaçados, contra uma parede invisível que eu quase passara a temer. Eu era a escuridão, não a luz. Eu era, e sou, a dor. O sofrimento, as lágrimas reprimidas e a falta de sentimentos de culpa. E essa sou eu, independentemente do que faça ou diga. Sou um conjunto de pedaços de nada, que se revolta de quando em vez para perder pequenos pedaços e pequenas qualidades adquiridas. Sou como uma águia que voa alto, mas como um boomerang que volta sempre ao mesmo lugar de onde outrora partiu. Eu sou, meu bem, o início e o fim. Sou uma poça de dor e cansaço. Sou uma mentira vivida, uma canção inventada. Sou a pessoa que acorda e não sente. Sou a pessoa que deseja tanto mas mente. Sou a perdição do sol, a escuridão tentada. Sou um pedaço vazio de tudo o que havia e se perdeu, até não sobrar nada.
E finalmente, meu amor, sou aquela que tens de deixar a cada amanhã. Sou aquela que tudo estilhaçará, independentemente do que sinta, independentemente do que faça. Sou um destino vazio, um ponto de vista mais além, preso a uma eterna fuga da luminosidade do dia. E é por isso que tenho de partir. É por isso que não posso ficar. É por isso, que para não ser uma desilusão tão grande, tenho de dizer adeus, esquecendo todos os meus egoísmos e vontades, e abraçando a escuridão onde tantas vezes encontrei a paz. Porque no final de contas, apenas preciso de um sítio escuro e quente, onde possa sempre voltar. 

ℓσѕτ ιη τнє ηιgнτ


 Às vezes é difícil admitir os erros quando os cometemos e, embora tenhas sido um erro, foste um erro feliz. Um erro que me trouxe alegria, que me fez sorrir, que tornou ainda melhor uma semana especial.  Às vezes o que nos marca não são as pessoas, são os momentos que essas pessoas nos fazem viver. E talvez nunca tenha pensado bem no assunto, mas aquela noite de conversa marcou uma das semanas mais especiais da minha vida. Porque eu estava num lugar novo, com pessoas novas, e tu fizeste o “ouro sobre azul”. Não espero que volte a acontecer de novo, mas de quando em vez, como esta manhã ouço a tua voz na minha cabeça, ainda meio distorcida pelo meu estado ébrio. Ouço a felicidade nas minhas veias, e o quanto esse momento contou para mim. Mas mais nada foi que isso, um momento. Algo especial que aconteceu e que não se vai repetir. Porque na vida os melhores momentos são aqueles que não se podem repetir, que apenas decorrem naquele replay mental que tantas vezes fazemos.
 São aqueles momentos que nos fazem rir quando estamos tristes, mas que também podem diminuir a nossa felicidade quando ela nos ultrapassa. Talvez não consiga esquecer porque, por mais acções más que eu tome, ainda ouço a tua voz na minha cabeça a avisar-me e a aconselhar-me. Talvez seja por isso que me dá tanto gosto errar. Porque talvez vá contra os teus conselhos, que, apesar de certos, já nada valem para mim. Talvez seja por voltar tantas vezes aquela noite que ela já perdeu parte do seu brilho especial. Pela análise, pelo arrependimento, por querer mudar a magia nessa noite. Por querer que não estivesse tanto calor, por querer um estado menos feliz e mais capaz de analisar as tuas palavras. Por desejar um raciocínio rápido e calculista, quando tudo o que tinha de momento era uma vontade enorme de rir e uma vontade igualmente enorme de te abraçar. Não posso esperar que me entendas, não posso esperar que voltes. Posso apenas garantir que, embora não tenha esquecido, sei perfeitamente o que a tua presença implicaria no momento presente. Dor, sofrimento, pensamento calculista e cruel. Está misturado nas coisas boas, agradáveis, completas, mas está lá. E não muda. Mas aparentemente, mesmo continuando a cometer o mesmo desagradável mas prazenteiro erro, mudei. Mudei porque se me tivessem dado oportunidade, o meu eu anterior voltaria aquela noite sem pestanejar, enquanto eu hoje viraria costas orgulhosamente. Porque o orgulho é maior que tudo, possivelmente maior que o amor.  E tem vezes em que apenas a análise fria das coisas bonitas nos salva, porque nos faz cair na invariável realidade de que tudo tem um fim. Nada dura para sempre, nada é infinito. Tudo perece, tudo termina. Tudo evolui, tudo cresce. 

sábado, 7 de dezembro de 2013

ℓινє- ѕмιℓє- ℓαυgн


Sabes aquele sentimento em que parece que tudo vai mudar? Que te vais acertar, que vais deixar de ter atitudes deprimentes, que vais mudar tudo. Que vais pegar nos retalhos de coisas que já aconteceram num dia passado e construir uma nova vida, livre, pura, sem maldade. Sabes esse sentimento? É treta. Podes conseguir mudar por um mês, dois meses, mas depressa a tua essência vai voltar ao teu corpo. Depressa ela vai tomar conta de ti de novo, vai te reensinar a viver da maneira como vivias antes, como se tivesses esquecido. Todas as tuas esperanças vão voltar. Todas as coisas contra que lutaste, todas as memórias boas e más. Por mais que tentes mudar quem és, não podes apagar a tua história, não podes construir alguém que não existe. Porque isso vai simplesmente matar-te por dentro. Não podes dizer-te o que sentir ou o que fazer. Não podes tentar mudar a tua essência. Por mais que aches que nasceste de novo, que tal como uma fénix te ergues sobre novos territórios, irás errar. Irás caminhar em falso. Porque não é o que conheces. Por vezes o desconhecido é, bom, é fácil. Melhor que aguentar a vida que temos normalmente. Melhor do que acordar todos os dias e sentir a frustração de não evoluir.  

No entanto, podes manter esse sentimento guardado. Concentrar-te na tua vida, nos teus objectivos, no que mais desejas conseguir e guardar a tua essência a sete chaves até teres espaço mental para lidar com ela. Para coexistirem no mesmo corpo.  Até teres o sangue a correr puro nas veias o suficiente para aguentar a injecção de malefícios de novo. Até poderes largar a agenda ocupada para lidar com assuntos do corpo e do coração. Até teres controlo na situação, embora não tenhas controlo sobre ti.



Porque a vida evolui, porque a vida prossegue. Porque tu és tu e o que és nunca vai morrer. Porque vais ser sempre uma chama viva no teu próprio coração. Porque vais ter possibilidade de construir um caminho. Porque vais ter um futuro, uma vida, algo construído por ti. Porque um dia podes morrer mas o teu legado nunca morrerá. Porque és eterno, mesmo sem seres. Porque quando respiras marcas um lugar só teu. Porque somos tempo, espaço e infinito. Porque somos indefinidos. Porque somos nós.