Não te conheço.
Apenas sei o teu nome, assim como tu sabes o meu.
Nenhum de nós se conhece.
Nunca senti o calor do teu abraço ou o teu cheiro. Nunca te
vi, nunca te toquei. Nunca me viste, não sabes o som da minha voz nem a cor
exacta dos meus olhos.
O mais incrível é a maneira estúpida em como eu ainda olho
para todo o lado à tua espera. À tua procura. Porque incrivelmente ainda tenho
esperança. Esperança essa que diminui de dia para dia, até , num certo momento
nesta cronologia, já nada restar.
Nunca me viste sorrir, nunca te vi caminhar.
Estou ciente da tua existência, da tua presença muda que
partilhas comigo por breves momentos na tua mente. Então finges que nada muda.
E eu finjo que para mim tudo é igual.
Ambos construímos uma vida baseada em sonhos vazios. Em
escombros do passado, teus e meus. E ás vezes penso em nós, sabes? Vejo-nos
sentados no meu sofá, a rir. Vejo-nos juntos a passear. Vejo-te antes de fechar
os olhos quando adormeço. Por breves segundos, gosto de fingir que lá estás a
abraçar-me. Impede que eu me sinta tão só, tão vazia, no único momento que
tenho só para mim. No entanto, sei que não é real… Sei que somos existências
separadas, na ilusão de um para sempre que nunca chegará. O mundo não nos
conhece aos dois e não somos donos de nada. Estamos separados por montes,
vales, estrelas e casas. Quilómetros, milhas, metros, horas de viagem.
Não me conheces. Eu não te conheço.
E talvez nunca venhamos a conhecer-nos.