Neste momento coisas de que eu tanto gostava estavam a
tornar-se um peso. Uma obrigação. O vazio ficava em lugar da importância que
outrora todas aquelas coisas tinham tido para mim. As coisas mudam, as pessoas
mudam. Estamos sentados numa cadeira e o tempo faz com que à nossa volta tudo
mude. As memórias, essas, ficam guardadas em pedaços selados da minha mente.
Partes essas onde um dia eu te guardei, onde secretamente te visitava todas as
noites antes do sono profundo tomar conta de mim. E ainda agora eu te via na
minha mente, lembrando-me de pequenas lições e de grandes feitos num pequeno
coração. No meio de tanta coisa que esqueci no passado, vieram à mente
conversas à chuva, desabafos escondidos e murmurados ao vento. Lembrei de como
a caneta deslizava pelo papel, querendo ocupar sempre mais e mais espaço, entre
pensamentos confusos de uma mente abalada pelas memórias. Agora escrevi tudo
num papel e talvez o enterre. Talvez, tal como fiz com aquele papel perfumado,
encerre um capítulo. Tanta coisa mudou em segundos. A importância do mundo era
relativa comparada a sentir os teus lábios movimentarem-se contra os meus, algo
que eu jamais sentirei… Algo que deixei de acreditar ser possível. Não devido a
sentimentos vazios, porque o nosso copo não era meio vazio, era meio cheio.
Éramos nós meu amor, e as nossas lembranças. E veio uma onda do mar e lavou a
minha alma, ficando apenas a realidade dos nossos actos onde o carinho um dia
teve lugar. Onde a mente se organizava a si mesma… Onde o que ontem foi e hoje
já não é. Talvez ninguém entenda o que sinto, mas eu queria saber se me
entendes, se me ouves, se me queres, e se ao fim de tudo, dentro de ti, ainda
me procuras.
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