Minha droga, neste último mês desapeguei-me de ti enquanto
vício. Relembrei-te dentro da minha alma como uma lição a aprender. Quanto mais
negasse o que eras, mais desejo sentiria pelas injecções diárias e frias que me
proporcionavas. Depois de tantos meses a sentir-te percorrer o meu corpo, soube
que estava na altura de arranjar um novo vício. Bem, não totalmente um vício,
mas algo que me sustentasse sem ti. E esse algo sustentou-me. Poupou a minha
alma ao desgosto de não te ter. Cobriu a ferida enorme que deixaste no meu
peito e que agora se refez. Foi como o arco-íris depois de um furacão. Tu sim,
foste o furacão da minha vida, o que mais me abalou e confundiu os sentimentos
neste coração já tão partido e merecedor de dó. E o quanto eu amava sentir-te correr
pelas minhas veias, mudou. Percebi que viveria sem ti, sem a minha dependência.
Percebi que também tu, minha droga doce, viverias sem a minha dependência de
ti. E aos poucos fui-te deixando na gaveta, na seringa que tu tanto amas, na
qual aprisionas todo o teu poder, e vida e saudade. Nada voltará a ser como foi
antes de ti. Como poderia? Falo no passado mas nada garante que a nossa
separação seja eterna. Foste tu que ao longo de meses de sofrimento me
conseguiste ainda assim levar para longe da escuridão. Porque eu achava que não
eras a escuridão. Eras o bem e o mal numa só figura. E tantas vezes chorei por
ti, pelo vício, por sentir o teu cheiro no ar e a tua presença por perto? Quantas vezes, minha droga, evitei estar perto do mundo apenas porque coexistias
no mesmo corpo que eu? Voei contigo presa na minha alma, cedi ao vício doentio
que me fazia querer que corresses pelas minhas veias. Fui fraca chorei. Mas por
chorar também fui forte, quando não podia mais com a minha ligação a ti e
tentava despedaçar contra a parede dura e fria.
E agora acabou… E sabe tão bem respirar de novo. E sabe tão
bem viver, cantar, sorrir, sentir a vida em mim, a vida livre, sem ti, sem a
tua presença, e sentir que o meu coração poderia bater mesmo sem ti. Acredita,
eu só precisava de uma oportunidade para deixar… Tive, deixei. E agora vivo,
não para sempre, mas por um longo período sem ti, para melhorar o que deixaste
partido, para curar as cicatrizes das nossas feridas, e aprender a ser eu de
novo.
0 comentários:
Enviar um comentário