sábado, 12 de janeiro de 2013

αgαιη


Não sei por quantas vezes o medo já me aprisionou dentro de mim mesma. Nem sei quantas vezes mais o fará. Lembro-me tão bem da sensação, o medo a controlar todas as outras emoções, a levar a becos sem saída, a espalmar-me entre a espada e a parede. O medo de perder, de deixar cair algo precioso, aquele simples facto de saber que se algo fugir do controlo tudo se poderá perder, e muito sinceramente, não consigo viver com a dúvida. Não consigo imaginar o sentimento que uma mudança trágica faria em mim, depois de tanta coisa ter já mudado. Não consigo conceber o quão magoada, desarranjada e quebrada eu ficaria, nem mesmo quando já prometi nunca mais me quebrar. Não consigo imaginar o mundo novamente, não conseguia saber como achar tudo aquilo que um dia conseguiu fazer-me deixar de ter medo. Não sei se seria capaz de me congelar de novo quando o sol radioso brilha dentro de mim. A dúvida persiste, não por falta de confiança, não por falta de amor, mas porque sem provas em contrário a duvida está lá para ser provada e comprovada até o erro ser mínimo. Porque se não houver erro, não há dano, e aqui já houve danos demais. Danos talvez irreparáveis, que não me permitem ter total confiança em ninguém. Danos que me relembram da sua existência quando eu menos espero e que me fazem escorrer uma lágrima pela face, simplesmente ao pensar numa cadeia de acontecimentos que fariam o mundo que hoje conheço ficar semelhante a um iceberg como um dia ele foi. Frio, gelado, sem sol. Noite permanente. Sem saída, sem planos, sem alegria. Sem sorrisos verdadeiros, sem o brilho nos olhos. Gelo e nada mais que gelo. Frio e nada mais que frio, daqueles que sentimos no mais profundo do nosso ser. Virar gelo novamente seria como quebrar –me de novo em pedaços, reinventar-me em algo que está perdido, e dessa vez, para sempre. Sem retorno, sem teletransporte para um mundo melhor. Sem asas para voar, para fugir para longe. Seria a escuridão sem luar, sem estrelas, apenas negro, apenas o fim. Algo para o qual eu estou tão impreparada, tão profundamente cega depois de ter visto o sol radioso brilhar a cada manhã. Não quero o frio de novo. Acho que me fartei do frio, que me habituei demais ao calor. Acho que mudei. Que adquiri algumas fragilidades, que talvez nem me dê ao trabalho de consertar… Pergunto-me onde está a minha essência, onde está aquilo que construí, e no meio da resposta encontro o que me fez mudar. E isso tem mais valor agora do que tinha antes. Porque nunca tomei consciência do quanto eu podia ser capaz de amar depois de ter perdido tanto. Depois de ter só visto dor no meu coração, depois de ter achado que não mudaria. Eu amo, e o milagre maior foi exactamente esse. Amar, acreditar, sentir. 

1 comentários:

Jinxxy Orpheus disse...

deep :')

Enviar um comentário