terça-feira, 4 de dezembro de 2012



Acabei por entender que, nas tuas leves fragilidades, escondias o que eu procurava. Não te conhecia, e tu não me conhecias. Era passado e futuro, combinado com presente. E eu queria saber quem eras, no entanto, tal coisa era difícil de obter. Não que eu não pudesse, não que eu não quisesse, mas porque era complicado em si mesmo. E saberias o que eu queria? O que eu desejava? Desejava passear, caminhar, ver as estrelas. E era tão difícil não poder, ter de controlar tudo, naquela ânsia de poder só minha, que tanto abalava os meus sonhos e me fez desistir de tanto, e de aproveitar tão pouco. E ainda tento não olhar para trás durante o dia, para que a luz não me leve onde não quero mais ir. Prefiro a escuridão da noite que me traz a calma e ao mesmo tempo te traz para mim. Sei os passos que não devia ter dado e dei, sei o que devia ter mudado e não mudei, onde eu devia ter corrigido essas imperfeições pequenas mas tão grandes e que deixavam marcas gravadas na alma. Foi difícil ir embora e não olhar para trás, deixar aquela pessoa que eu via no espelho tantas vezes todas as manhãs e despedir-me dela foi a coisa mais difícil que algum dia fiz. E valeu a pena. Se eu não tivesse deixado aquela pessoa naquela manhã, o sofrimento seria ainda maior. E a pessoa que eu deixei tinha tanto amor dentro dela que talvez não suportasse a desilusão que eu acabei por trazer a mim mesma, antes de toda a felicidade que veio acrescida dessa decisão tão complicada de entender pelo meu espírito tão habituado ao sofrimento e ao passar horas tristes com ele mesmo sem parar de pensar no antes, no depois e em todas as consequências de todos os actos irreflectidos e impensados que ocorreram depois daquela manhã. Sei que a pessoa que lá estava não me teria apoiado nas minhas maiores decisões, decisões essas que levaram a um novo e gentil amanhecer. A pessoa que lá estava era tão agarrada ao passado que nem poderia pensar no frio que estava por vir a seguir. Estava tão cega que nem conseguiria pensar no sol que derreteria esse gelo. Era eu, independentemente de tudo. Lembro-me tanto daquela manhã porque ela me olhava como se eu fosse a maior criminosa de todas por lhe ter arrancado aquela luz idiota que brilhava dentro dela, mas isso era o mínimo que eu poderia fazer para a salvar. E tenho a certeza que se ela me vir hoje, que me irá agradecer. Porque naquele espelho ela não está mais sozinha. Ela tem uma das suas maiores amigas de hoje em dia, alguém que ela conserva dentro de si mesma, no lugar onde aquela luz tão grande residia, e decerto que amanhã mais um pedaço de vida se juntará a ela, e juntos farão um pedaço de passado para lembrar alguém de um presente que não foi vivido mas foi sonhado. E penso que até voltou a fazer algo que se tinha esquecido de fazer por muito tempo… ela começou a sorrir. Não pelo ontem, nem pelo amanhã, mas pelo hoje que tinha sido tão delicadamente trazido por alguém não sonhado mas sentido,e que um dia voltaria a nascer.
E tenho a certeza que mais cedo ou mais tarde o medo dessa pessoa tão esperada vai passar, assim como tanta coisa por ela passou antes de mudar e de se deixar tantas vezes a ela mesma, entregue a sentimentos confusos e tantas vezes opostos, antes de enveredar pela loucura crescente que tanto luzia no seu coração. Vai sobreviver como sempre sobreviveu, levantar-se como sempre se levantou. E vai ser ela mesma, dentro de si mesma, e cada vez que olhar naquele espelho. 


3 comentários:

Jinxxy Orpheus disse...

Outra vez um texto digno de ser publicado em livro

Jinxxy Orpheus disse...

:') intenso

Rowenna* disse...

Publicado em livro é meio que exagero, mas muito obrigada na mesma, significa muito para mim <3

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